segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sequência 3: As carinhas



Trata-se de um motivo repetitivo e geométrico.
Séries/anos nas quais ela pode ser aplicada: 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental e EJA.
Foi desenvolvida nas turmas das professoras: Carla e Claudia.

Objetivos: Espera-se que o aluno seja capaz de:
·         Explorar o vocabulário específico da sequência (motivo, repetição...);
·         Identificar o motivo da sequência;
·         Diferenciar o que é motivo e o que é repetição dos elementos da sequência;
·         Estabelecer a razão entre o número de caras tristes e o de caras alegres.

Material utilizado: folha impressa com a tarefa.

Tarefa: As carinhas
Observe a sequência de carinhas a seguir:

a) Indique qual é o motivo dessa sequência.
b) Quantas vezes o motivo aparece na sequência?
c) Como seria a 33ª carinha? Como você sabe disso?
d) Como seria a 44ª carinha? Como você sabe disso?
e) Quantas carinhas existem ao todo no motivo?
f) Quantas carinhas tristes existem no motivo?
g) Quantas carinhas alegres existem no motivo?
h) Se a sequência tivesse 100 carinhas quantas seriam tristes e quantas seriam alegres?

 
A. Respostas esperadas para cada item:
a)  (As cinco primeiras carinhas)
b) 5 vezes
c) Triste ( Espera-se que os aluno relacione com a terceira carinha do motivo )
d) Feliz ( Espera-se que o aluno relacione com a quarta carinha do motivo )
e) 5
f) 2
g) 3
h) 40 tristes e 60 alegres (Espera-se que o aluno relacione com o conceito de razão: 2 carinhas tristes para cada 5 e 3 alegres para cada 5).

B. Potencialidades da tarefa:
A tarefa mostrou-se bastante rica, possibilitando:

·         A identificação do motivo (mesmo na turma do 5º ano).
·         A identificação de quantas vezes o motivo se repete num determinado número de elementos da sequência: em 1 repetição, 5 carinhas; em 25, 5 carinhas (8º ano).
·         Os alunos podem criar outras generalizações, como, por exemplo, com uma turma de 8º ano, eles generalizaram de 10 em 10 – de 0 a 10, as carinhas tristes são: 1, 3, 6 e 8 e as felizes: 2, 4, 5, 7, 9 e 10. Então, aplica-se isso aos múltiplos de 10.
·         Pode também, como ocorreu com um 5º ano, haver a generalização para a sequência de 25 carinhas, são 15 felizes e 10 tristes; para 50, são 30 felizes; para 100, são 60 felizes.
·         Mesmo num 5º ano, em que ainda não se usa a linguagem simbólica, para identificar a carinha na posição na 33ª, os alunos numeraram até a 25ª; a partir daí passar a usar T, F, T, F,F até chegar na 33ª. Eles usam a contagem, mas com o uso de uma linguagem simbólica. Troca-se a imagem pela letra.

C. Descrição de como foi a tarefa em sala de aula:
C1. Profa. Carla - 5º ano

Para o desenvolvimento dessa tarefa os alunos trabalharam em duplas, realizaram os registros e, em seguida, houve a socialização das respostas dos alunos. Na socialização a professora disponibilizou 3 registros  no Datashow como exemplos para discutir com a sala. Nas discussões houve as trocas das ideias, em que os alunos que não tinha percebido a regularidade, ou o motivo da sequência conseguiram generalizar e compreender o mesmo.
Alguns alunos generalizaram e demonstraram indícios de pensamento algébrico mediante o processo de resolução do problema, principalmente quando estabeleceram a proporcionalidade.
De modo geral, nota-se que nos registros da tarefa no 5º ano existe um desenvolvimento na prática de generalização, e indícios de pensamento algébrico. Percebe-se isso pela linguagem e pelas estratégias de resolução por desenhos e símbolos.


C2. Profa. Claudia – 6º e 8º anos
No que se refere à mediação pedagógica da professora, seu papel nesse contexto é de, primeiro, possibilitar que os alunos trabalhem de forma autônoma, explicitem suas ideias matemáticas e as compartilhem com os colegas; em seguida, seu papel é promover as sínteses teóricas que garantirão a aquisição formal dos conceitos matemáticos.
Foi entregue uma folha com a tarefa para cada grupo. Em média 30 alunos presentes, organizados em grupos de quatro, onde deixei livre para que pudessem decidir os grupos.
Foi proposto aos alunos que, em grupo, respondessem as questões relacionadas na tarefa proposta, com o objetivo de verificar se o enunciado estava adequado para possibilitar o desenvolvimento do pensamento algébrico e uma possível generalização. Os alunos poderiam utilizar-se de estratégias pessoais e, em seguida, as soluções encontradas seriam socializadas. Primeiramente foi realizada uma leitura coletiva e esclarecedora das possíveis dúvidas de vocabulário, porém, sem muitos esclarecimentos matemáticos neste momento inicial.
Os alunos conseguiram realizar a tarefa, porém necessitaram de intervenções para que fosse apresentada a resposta completa. Fizeram perguntas do tipo: “É só para responder com o número, ou precisa descrever que jeito pensou em cada situação? Precisa escrever qual é a regra que se repete?” Eu intervi, não no sentido de fornecer a resposta, mas de ajudar os grupos a encontrá-la por si mesmos, deixando mais explícita a intencionalidade da atividade proposta. Deste modo os alunos não se desmotivavam e se dedicavam apenas para pensar sobre o que era solicitado no problema.
Os grupos apresentaram diferentes soluções e registros. Em seus registros pude perceber diferentes interpretações e a ausência de alguns conceitos como, por exemplo, diferenciar motivo e repetição.
Através das falas dos alunos e ao analisarmos os registros pode-se verificar que a primeira questão (Quantas carinhas estão nas duas primeiras repetições?) possibilitaria diferentes interpretações. Todos os grupos responderam que nas duas primeiras repetições há dez carinhas, porém na socialização mostraram que as duas primeiras repetições seriam as 10 primeiras, o que não é verdade, pois as duas primeiras repetições se iniciam após o motivo. E quando se perguntou quantas repetições existem na figura, todos respondem cinco, porém seriam quatro. Na devolutiva houve a necessidade de definir o que é repetição para que fosse possível identificar quantas existem nesta figura.
Em relação às questões “quantas carinhas tristes” e “quantas carinhas alegres”, estas não deixavam claro se era no motivo ou no total da sequência. Isso não possibilitou a generalização sem a minha interferência de que, a cada cinco carinhas, duas são tristes e três são felizes.
Durante a análise dos registros pude verificar que todos os grupos conseguiram identificar o motivo, ou seja, a cada cinco carinhas inicia-se a repetição. Muitos grupos utilizaram como estratégia o desenho para descobrir a 33ª e 44ª carinha, porém na socialização mostraram que conseguiriam generalizar se tivesse sido pedido quantidades maiores de carinhas.


D. Observações gerais dos professores quanto à aplicação da tarefa:
Essa foi a tarefa que mais exigiu do grupo esforços para elaboração do enunciado. Chegamos a três versões da tarefa, visto que nas duas primeiras as questões postas pelos alunos nos levaram a concluir que as perguntas elaboradas não possibilitavam que atingíssemos os objetivos da tarefa. Assim, os enunciados foram sendo alterados. Isso reforça a importância do trabalho coletivo, tanto para a elaboração quanto para a avaliação da eficácia da tarefa.

Beatriz D'Ambrosio

Ela foi professora de Educação Matemática no Departamento de Matemática da Universidade de Miami, em Oxford, OH.Ela serviu no Conselho de Administração do Conselho Nacional de Professores de Matemática, no Conselho Editorial da Revista de Investigação em Educação Matemática (JRME), e como membro convidado dos painéis Editorial de números especiais sobre o patrimônio e diversidade na educação matemática, tanto para JRME e no Journal of Mathematics Professor educação.


Os participantes do Grucomat deixam aqui registrado o eterno agradecimento à Profa. Dra. Beatriz D'Ambrosio, que tão cedo nos deixou.
Ela esteve interagindo com o grupo em 2013 e 2015. Em suas visitas à USF sempre se mostrou disponível para nos ajudar a avançar teorica e metodologicamente na pesquisa e nas práticas do grupo. Em cada visita sempre contribuiu com sugestões de tarefas e nos deixou muito material para nossos estudos.
Sentimos falta da sua amizade, do seu sorriso e do seu compromisso com a Educação Matemática.  Que possamos continuar seguindo seu exemplo como pesquisadora e educadora matemática.