quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Relatório Final Universal - 2013-2015

A videogravação de aulas de matemática como ferramenta para a pesquisa em
formação docente: produção e análise de vídeos


Relatório Final
(Projeto Universal CNPq – Processo 475848/2012-8)
Equipe responsável:
Adair Mendes Nacarato (coordenadora)
Carla Cristiane Silva Santos
Cidinéia da Costa Luvison
Claudia Cristiane Bredariol
Daniela Dias dos Anjos
Giancarla Giovanelli de Camargo
Iris Aparecida Custodio
Jaqueline Aparecida Foratto Lixandrão Santos
Juliana Bagne
Kelly Cristina Betereli
Marjorie Samira Ferreira Bolognani
Raquel Fernandes Gonçalves  Machado
Rosangela Eliana Bertoldo Frare
Selma Nascimento Vilas Boas




RESUMO
O presente texto apresenta o relatório da pesquisa desenvolvida no período de novembro de 2012 a outubro de 2015 no Grupo Colaborativo em Matemática (Grucomat), no âmbito no Projeto Universal do CNP        Q (Processo 475848/2012-8). Trata-se de uma pesquisa colaborativa de abordagem qualitativa e que se realizou em duas instâncias: as pesquisas de 1ª ordem, desenvolvidas pelas professoras da escola básica e as pesquisas de 2ª ordem, desenvolvidas pelas professoras responsáveis pelo projeto. Teve como objetivos investigar quais saberes são produzidos e mobilizados em um grupo de trabalho de dimensão colaborativa quando se toma o estudo de aulas videogravadas como objeto de investigação (pesquisa de 2ª ordem); e a identificar e analisar os discursos matemáticos dos alunos da educação básica nas aulas videogravadas (pesquisa de 1ª ordem). O material produzido consta de: videogravações das aulas das professoras, narrativas produzidas pelas professoras e audiogravações dos encontros do grupo. Apresenta-se uma descrição de todas as ações do grupo no período da pesquisa e traz alguns resultados já sistematizados. A análise dos dados evidenciou que o Grucomat vem consolidando um modelo de formação docente que consiste no trabalho compartilhado que tem a pesquisa em sala de aula como eixo da formação. Isso decorre das práticas formativas adotadas no grupo, pautadas em: estudos teóricos, elaboração coletiva de tarefas para a sala de aula, desenvolvimento das tarefas com os alunos com o registro dessas práticas (uso de videogravação ou audiogravação) e posterior análise compartilhada no grupo dos vídeos e materiais produzidos. Os eixos centrais do trabalho são, portanto, a elaboração de tarefas e a análise de aulas. No caso da presente pesquisa, o foco de estudo foi o pensamento algébrico dos alunos da educação básica – educação infantil ao ensino médio. Há indícios de que os alunos, desde o início da escolarização conseguem perceber regularidades em padrões e fazer generalizações, usando a linguagem materna.

Palavras-chave: Análise de aulas; Formação docente; Comunidade de investigação; Pesquisa colaborativa; Tarefas matemáticas; Pensamento algébrico.



SUMÁRIO
Introdução .....................................................................................
04

1. Percursos metodológicos da pesquisa ...........................................
06

2. Ações realizadas durante o desenvolvimento do projeto...............
10

    2.1 Ações realizadas no ano de 2012............................................

10
    2.2 Ações realizadas no ano de 2013 ...........................................

11
    2.3 Ações realizadas no ano de 2014 ............................................

14
    2.4 Ações realizadas no ano de 2015 ............................................

18
3. Principais resultados .....................................................................
21

   3.1 Quanto à construção de saberes e a formação docente ............

22
   3.2 Quanto à construção de saberes sobre a natureza das tarefas para a sala de aula

26
4. Considerações finais .....................................................................
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5. Perspectivas de continuidade ........................................................
29

Referências .......................................................................................
30






INTRODUÇÃO

O presente relatório refere-se ao projeto de pesquisa “A videogravação de aulas de matemática como ferramenta para a pesquisa em formação docente: produção e análise de vídeos” (Projeto Universal CNPq – Processo 475848/2012-8), desenvolvido no período de novembro de 2012 a outubro de 2015.
Ele foi desenvolvido pelos participantes do Grupo Colaborativo em Matemática (Grucomat), vinculado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade São Francisco, campus Itatiba, SP. O Grucomat existe desde 2003 no interior da universidade, cujos participantes são professores-pesquisadores da universidade e da escola básica, bem como alunos da pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Durante o desenvolvimento do projeto ele contou com 15 participantes efetivos.
            Essa pesquisa se propôs a investigar quais saberes são produzidos e mobilizados em um grupo de trabalho de dimensão colaborativa quando se toma o estudo de aulas videogravadas como objeto de investigação (pesquisa de 2ª ordem); e a identificar e analisar os discursos matemáticos dos alunos da educação básica nas aulas videogravadas (pesquisa de 1ª ordem).
            Trata-se de uma pesquisa colaborativa. O sentido dessa colaboração entre os acadêmicos e os professores é compreendida por Elliott (2001) como:
A tarefa do pesquisador acadêmico seria a de estabelecer uma forma de pesquisa colaborativa que fosse transformadora da prática curricular e que, no processo, favorecesse uma forma particular de desenvolvimento do professor, sobretudo o desenvolvimento de capacidades para transformar reflexivamente e discursivamente sua própria prática (...). Isso significou uma ampliação do papel da pesquisa acadêmica no âmbito da pesquisa-ação, a qual passou a ser denominada de “pesquisa-ação de segunda ordem” (ELLIOTT, 2001,
p. 142.grifos do autor)

Baseando-nos nas ideias de Elliott, traçamos o design da pesquisa apoiada em duas perspectivas: pesquisas de 1ª ordem e pesquisas de 2ª ordem. Segundo Grando et. al (2009, p. 295), as pesquisas de 1ª ordem se caracterizam como “pesquisas de campo realizadas por professores universitários, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, professores escolares, licenciandos e participantes de grupos colaborativos” (p. 295). Já as pesquisas de 2ª ordem se caracterizam como:
Pesquisas de natureza teórica e de sistematização e/ou meta-análise qualitativa de estudos e processos desenvolvidos (...), que compreendem as pesquisas de primeira ordem ou as práticas de reflexão, análise e interpretação de professores e pesquisadores, durante a realização e a avaliação de seus projetos de pesquisa de primeira ordem. (p. 295)

No projeto inicial, destacamos que essas duas perspectivas estão articuladas, e que poderiam ser representadas no seguinte esquema:


Figura 1: esquema representativo do desenvolvimento da pesquisa














Fonte: Elaboração das pesquisadoras

            Tal design foi decorrente de nossa experiência como formadoras de professores e atuação em grupos colaborativos e realização de pesquisas colaborativas. Nesses 13 anos de existência do Grucomat, esta é a terceira pesquisa colaborativa desenvolvida (a primeira foi sobre o ensino de Geometria e a segunda, sobre Educação Estatística). As duas primeiras pesquisas foram sistematizadas e divulgadas nos livros organizados por Nacarato, Gomes e Grando (2008) e Nacarato e Grando[1] (2013).
            Tais experiências nos sinalizaram sobre a importância da parceria universidade e escola e a pesquisa colaborativa envolvendo professores/pesquisadores dos dois campos de atuação. Também decorrente dos projetos anteriores desenvolvidos no grupo, tomamos um campo da matemática como objeto de estudo: a álgebra. Embora tal recorte não fizesse parte do projeto inicial, esse campo acabou se consolidando no grupo por duas razões:
1. Entre o período de submissão do projeto e o seu início, o Grucomat iniciou estudos no campo da álgebra, no sentido de colaborar com a pesquisa de um mestrando, participante do grupo. As leituras iniciais já nos sinalizaram tratar-se de um fértil campo de estudos e pesquisas e que, assim como a geometria, tem sido abandonado nas práticas pedagógicas, as quais se limitam, na maioria das vezes, a uma abordagem da álgebra apenas em seus aspectos sintáticos, com ênfase em procedimentos estruturais, desconsiderando a formação do pensamento algébrico pelos alunos. Quando o projeto foi aprovado, o grupo decidiu que esse campo poderia se constituir no início de nossas ações, em 2013. No entanto, à medida que avançávamos nos estudos e elaboração de tarefas, maiores eram as nossas necessidades teóricas e metodológicas. Assim, optamos por dar continuidade ao estudo e pesquisa no campo do pensamento algébrico.
2. A publicação pelo MEC do documento Elementos conceituais e metodológicos para definição dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento do ciclo de alfabetização (1º, 2º e 3º anos) do Ensino Fundamental” (BRASIL, 2012). A área de Matemática foi organizada por direitos de aprendizagem, eixos estruturantes e objetivos de aprendizagem por eixo: Números e operações, Pensamento Algébrico, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação. A inclusão do eixo “Pensamento Algébrico” surpreendeu o grupo, visto que há poucas pesquisas no país envolvendo esse campo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, embora internacionalmente, esse campo, tratado como Pré-Álgebra, seja inserido nos currículos desde o início da escolarização. Assim, houve o entendimento de que poderíamos nos aprofundar teórica e metodologicamente nesse campo, com estudos e elaboração de situações para a sala de aula.
            Dessa forma, as pesquisas de 1ª ordem do presente projeto foram desenvolvidas com foco nos discursos dos alunos no campo da álgebra, trazendo indícios de como eles percebem regularidades e buscam por leis de formação, tanto em sequências quanto em igualdades numéricas. Para isso foram tomadas como material de trabalho as tarefas elaboradas pelo grupo[2].
            O presente relatório está organizado nas seguintes seções, além da introdução: percursos metodológicos da pesquisa; ações realizadas durante o desenvolvimento do projeto; principais resultados; considerações finais; perspectivas de continuidade e referências bibliográficas.



1. PERCURSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

            Como já destacado, esta foi uma pesquisa colaborativa, de abordagem qualitativa. Consideramos a pesquisa colaborativa como referencial metodológico, entendendo que a parceria entre os participantes do grupo na análise de aulas videogravadas poderia contribuir para: identificar as possíveis aprendizagens sobre a matemática escolar, em especial sobre a álgebra, por professores inseridos em um contexto de colaboração e de investigação; identificar os saberes docentes produzidos e (re)significados nos momentos em que o grupo prepara tarefas para a sala de aula, analisa os vídeos produzidos em suas salas de aula e produz sistematizações por meio de narrativas; analisar o movimento de elaboração conceitual que constituem os discursos matemáticos dos alunos da escola básica a partir das tarefas desenvolvidas; compreender os limites e as potencialidades do uso da videogravação de aulas como ferramenta para a pesquisa e a prática de ensinar e aprender matemática.
            Ao adotar tal perspectiva de pesquisa, nos aproximamos das atuais tendências de formação docente que consideram o protagonismo do professor em sua prática de sala de aula e um pesquisador de sua própria prática (NACARATO; GRANDO, 2013). Temos evidências de que o professor precisa se mobilizar para o seu próprio desenvolvimento profissional. Ou seja, as práticas de formação geralmente adotadas pelas políticas públicas têm se mostrado ineficientes, uma vez que os professores raramente são ouvidos e as temáticas desenvolvidas nem sempre partem de suas necessidades. Assim, os professores não se sentem protagonistas dessas práticas e, consequentemente, pouco aprendem a partir delas. Por outro lado, se os professores encontram espaços formativos com os quais se identificam, eles se envolvem e se transformam, como evidenciam os resultados da pesquisa. Adotamos como referenciais teóricos para a análise os trabalhos de Ibiapina (2008), Cochran-Smith e Lytle (1999) e Jaworski (2008), além das publicações do próprio grupo.
            Com Ibiapina (2008) compartilhamos da noção de pesquisa colaborativa. Como
afirma a autora, a pesquisa colaborativa se constitui em uma prática “de indagar a realidade educativa em que investigadores e educadores trabalham conjuntamente na implementação de mudanças e na análise de problemas, compartilhando a responsabilidade na tomada de decisões e na realização de tarefas de investigação” (p. 23). Nesse processo, a colaboração é produzida por intermédio das interações estabelecidas entre as múltiplas competências de cada um dos partícipes, os professores, com o potencial da análise das práticas pedagógicas; e o pesquisador com o potencial de formador e de organizador das etapas formais da pesquisa. A interação entre esses potenciais representa a qualidade da colaboração, quando menor as relações de opressão e poder, maior o potencial colaborativo. Nesse movimento, todos aprendem. Além disso, nessa modalidade de pesquisa há o próprio prazer em estar junto com outros professores que estejam interessados em compartilhar práticas e saberes, em trabalhar junto, em trocar ideias, em sistematizá-las. É na alteridade, segundo a autora, apoiando-se nos estudos bakhtinianos, que os professores vão se apropriando de outros discursos e de outras práticas e transformando-os para os seus propósitos.
            De Cochran-Smith e Lytle (1999) e Jaworski (2008) nos apropriamos do conceito de comunidade de investigação. Tal comunidade se caracteriza pela parceria entre os participantes dessa comunidade, de professores da universidade, professores da educação básica e alunos da pós-graduação na realização de investigações compartilhadas. Cochran-Smith e Lytle (1999) também contribuíram com o trabalho, ao apresentarem o conceito de “conhecimento da prática”, ou seja, o conhecimento que é produzido localmente pelo professor e sistematizado, gerando novos conhecimentos sobre as práticas de ensinar e de aprender matemática. Esse conhecimento é de um valor inestimável para a academia. O professor, capaz de olhar reflexivamente para a sua prática e sistematizá-la, constrói uma “postura investigativa”. A escrita do professor vem permeada pelas reflexões produzidas ao longo do processo. O professor deixa de ser consumidor de teorias produzidas por pessoas externas à sala de aula e passa a assumir a postura de
pesquisador.
            Com esses pressupostos, traçamos os caminhos metodológicos da pesquisa, que teve como foco a formação dos professores que ensinam matemática a partir do movimento de: (1) realizar estudos teóricos; (2) elaborar tarefas; (3) desenvolver as tarefas com os alunos em sala de aula da educação básica; (4) gravar em áudio ou vídeo essas aulas; (5) produzir narrativas sobre as práticas de sala de aula; (6) analisar o material produzido (vídeos ou narrativas) em relação aos discursos matemáticos de alunos da educação básica; (7) sistematizar a experiência e produzir um material para a pesquisa e para a prática de formação de outros professores, ampliando a atuação do grupo.
            Estabelecemos como objetivos da pesquisa:
Objetivo geral: Investigar quais saberes são produzidos e mobilizados em um grupo de trabalho de dimensão colaborativa quando se toma o estudo de aulas videogravadas como objeto de investigação (pesquisa de 2ª ordem) e identificar e analisar os discursos matemáticos dos alunos da educação básica nas aulas videogravadas (pesquisa de 1ª ordem).
Objetivos específicos:
Para as pesquisas de 2ª ordem:
·         Identificar as possíveis aprendizagens sobre a matemática escolar por professores inseridos em um contexto de colaboração e de investigação.
·         Identificar os saberes docentes produzidos e (re)significados nos momentos em que o grupo prepara tarefas para a sala de aula, analisa os vídeos produzidos em suas salas de aula e produz sistematizações por meio de narrativas.

Para as pesquisas de 1ª ordem:
·         Analisar o movimento de elaboração conceitual que constituem os discursos matemáticos dos alunos da escola básica a partir das tarefas desenvolvidas.

Para ambas as pesquisas (1ª e 2ª ordem):
·         Compreender os limites e as potencialidades do uso da videogravação de aulas como ferramenta para a pesquisa e a prática de ensinar e aprender matemática.

As pesquisas de 1ª ordem foram desenvolvidas pelas professoras da educação básica, participantes do grupo e teve como foco de análise os discursos matemáticos produzidos pelos seus alunos em um ambiente de problematização diante de tarefas envolvendo pensamento algébrico. Para essas pesquisas as professoras contaram com os registros de suas práticas (áudio ou videogravados) e os registros dos alunos.
Para análise de vídeos contamos com os trabalhos de Powell, Francisco e Maher (2004) de que ele traz contribuições à pesquisa e à formação docente. O vídeo possibilita captar o movimento e a imagem em uma sala de aula; o professor pode voltar a ele quantas vezes for necessário; possibilita a multiplicidade de olhares e interpretações — pelo próprio professor, em diferentes momentos ou pelos pares — ; permite um exame mais detalhado das ideias matemáticas que circulam pela sala de aula e como estas são apropriadas, ampliadas e (re)significadas pelos alunos; libera o professor que tem a intencionalidade investigativa do ato do registro simultâneo, pois poderá assistir ao vídeo posteriormente e, dessa forma, pode dar maior atenção aos alunos durante as aulas; possibilita a análise de diferentes práticas e contextos e formas de organização dos alunos para o trabalho — individual, em pares ou em grupos. Em síntese, possibilita o compartilhamento e constituição de um repertório de saberes profissionais — de conteúdo, pedagógico do conteúdo, curricular, das ciências da educação. Ao capturar a postura do professor, a forma como dialoga com os alunos, conduz o trabalho coletivo e organiza a socialização, o vídeo possibilita que “os professores se tornem mais conscientes de seu comportamento em sala de aula. Eles podem refletir sobre suas ações e então considerar e discutir com outros se essas ações são efetivas ou não” (MAHER, 2008, p.67). Como diz a autora, os vídeos possibilitam aos professores se engajarem prospectivamente na elaboração de novas estratégias de ensino, garantindo um ensino de matemática mais efetivo para um maior contingente de alunos. Concordamos com a autora de que os vídeos têm um potencial incalculável para o desenvolvimento da consciência de como os alunos mobilizam seus conhecimentos matemáticos e constroem novos.
A pesquisa de 2ª ordem está sendo desenvolvida pelas pesquisadoras da Universidade que fazem parte do grupo (alguns resultados parciais dos dados produzidos já foram divulgados; outros, ainda estão em fase de análise, dado o grande volume existente), e atuam como mediadoras e formadoras. A análise é focada nos momentos de planejamento e análise da sequência de tarefas no Grucomat. Conta como fonte de dados: os encontros do grupo que foram audiogravados e transcritos e as narrativas produzidas pelas professoras.
A metaanálise qualitativa do conjunto de pesquisas de 1ª ordem desenvolvidas possibilita uma compreensão acerca da aprendizagem docente e das possibilidades de envolver alunos da educação básica nos discursos matemáticos em ambientes problematizadores que podem ser proporcionados na sala de aula. Entendemos que quando os professores investigam e produzem saberes, também passam a analisar os discursos matemáticos dos alunos de uma forma diferenciada.
Para a análise das pesquisas de 2ª ordem contamos com a parceria externa do Prof. Dr. Arthur Powell, da Rutgers University, EUA que contribuiu com as discussões e reflexões teóricas sobre o uso da videogravação de aulas como instrumento de pesquisa, bem como as possibilidades de investigação sobre os discursos matemáticos em sala de aula da educação básica, por meio das narrativas das professoras. Tal parceria se efetivou em dois momentos: 1) em junho de 2014 quando as professoras Adair Mendes Nacarato e Regina Célia Grando estiveram na Rutgers University, em New Jersey/EUA, para análise dos vídeos produzidos em 2013/2014; 2) em junho/2015 quando o Professor Arthur Powell esteve uma semana na USF, analisando conjuntamente com as professoras do Grucomat, as tarefas e as narrativas produzidas e organizando artigos a ser publicados.
No projeto inicial havíamos previsto a criação de uma homepage do Grucomat; no entanto, o grupo optou pela criação de um blog (http://grucomat.blogspot.com.br/) e, no encerramento do projeto, decidimos pela criação de uma página na rede social, com link para o blog (https://www.facebook.com/grucomat.usf.2016). É importante destacar que o grupo manterá suas atividades, mesmo com o término do projeto e dará continuidade aos estudos de álgebra, visto que ainda há muito por produzir e analisar.

2. AÇÕES REALIZADAS DURANTE O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
           
O Grucomat, enquanto espaço físico, está instalado na Universidade São Francisco, campus Itatiba/SP. Trata-se de um laboratório que conta com equipamentos para pesquisa (notebook, retroprojetor, câmera de vídeo, gravador, impressora, scanner, etc.), além de materiais pedagógicos para desenvolvimento das tarefas em sala de aula da escola básica.
Nesse espaço são realizados os encontros do grupo. Até 2014 as reuniões eram semanais, às segundas-feiras, das 18h às 20h. Em 2015 as reuniões passaram a ser quinzenais, visto que estávamos na fase de produção das narrativas de aulas que comporão o ebook do projeto (no Anexo 1). Assim, as professoras poderiam contar com tempo não apenas para a produção dos seus textos, mas também para avaliar os das colegas. Cada narrativa passou por duas versões de escrita: a primeira delas foi submetida a duas colegas do grupo, as quais fizeram apontamentos e pareceres sobre o texto; em seguida, houve a reescrita, uma segunda versão. As professoras Adair e Daniela fizeram a leitura final dos textos, os quais passaram, ainda, por uma revisão de português para serem publicados.  Houve, ainda, em 2015, a mudança do dia de reunião, passando para as quartas-feiras, no mesmo horário.


2.1 Ações realizadas no ano de 2012
            O estudo de álgebra teve início no grupo, ainda em 2012, antes mesmo da aprovação do projeto pelo CNPq. Nosso interesse inicial foi contribuir com uma pesquisa de mestrado, cujo autor era participante do grupo. Ele havia solicitado nossa ajuda para análise da viabilidade das tarefas que ele havia preparado para seus alunos de 7º ano. Naquela ocasião, o grupo considerou que dispunha de poucos conhecimentos nesse campo da matemática para análises críticas da sequência elaborada. Iniciamos, assim, nossos estudos.
No entanto, como já é uma prática no Grucomat, a cada texto lido, as ideias trazidas pelos autores, as sugestões de tarefas para a sala de aula que são apresentadas, imediatamente são apropriadas pelos professores que as adaptam para a sua sala de aula. Assim, com a álgebra não foi diferente. Ainda em 2012 já tivemos as primeiras tarefas sendo desenvolvidas em sala de aula. Sempre após o desenvolvimento e análise de uma tarefa em sala de aula, o grupo a reavalia e, muitas vezes, faz a reescrita da mesma, visando sanar os problemas já identificados pelos professores diante das dúvidas dos alunos. Terminamos, pois o ano de 2012 com algumas leituras e alguns dados já produzidos.
Textos lidos e discutidos em 2012:
USISKIN, Zalman. Concepções sobre a álgebra da escola média e utilizações das variáveis. In: COXFORD, Arthur F.; SHULTE, Albert P. As idéias da álgebra. Trad. Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1995, p. 9-22.
BOOTH, Lesley R.  Dificuldades das crianças que iniciam em álgebra. In: COXFORD, Arthur F.; SHULTE, Albert P. As idéias da álgebra. Trad. Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1995, p. 23-37.
VALE, Isabel; PIMENTEL, Teresa (coord.) Padrões em Matemática: uma proposta didática no âmbito do novo programa para ensino básico. Portugal: Texto Editores, 2011.
            Enquanto os dois primeiros textos nos trouxeram reflexões sobre as concepções de álgebra e as dificuldades para o seu ensino e a aprendizagem dos alunos, o livro de Vale e Pimentel foi fundamental para que o grupo compreendesse a importância dos padrões para o pensamento algébrico. Com base nesse livro, o grupo elaborou algumas tarefas[3] para serem desenvolvidas na Educação Infantil e Ensino Fundamental – Sequências 1, 2 e 3. Essas tarefas foram desenvolvidas pelos professores: Juliana, Cidinéia, Claudia, Paulo, Jaqueline e Carla. Os primeiros vídeos e/ou registros foram produzidos, mas sem tempo hábil para análise, visto tratar-se do final do ano.

2.2 Ações realizadas no ano de 2013
            As principais ações do Grucomat no ano de 2013 foram:
·         Análise de vídeos produzidos em 2012: foram analisados dois vídeos: turma da Educação Infantil, vídeo produzido pela Juliana Bagne; turma do 3º ano da Cidinéia Luvison.
·         Produção e análise de vídeos: foram produzidos vídeos nas salas de aulas dos professores: Giancarla Giovanelli (Educação Infantil); Paulo Penha[4] (6º e 7º anos), Cidinéia Luvison (3º ano) e Jaqueline Santos (7º ano). No caso da Raquel Machado, ela utilizou uma sala de aula de uma professora do Colégio de Aplicação onde atua, para produzir o vídeo (turmas de EJA), visto estar afastada para cursar o doutorado. Esses vídeos foram analisados no grupo e nos possibilitaram rever a natureza das tarefas elaboradas e quais delas necessitavam de reescrita. Também possibilitaram a percepção pelos professores de formas de atuação em sala de aula. Os vídeos eram longos e com riqueza de detalhes, o que levou o grupo, em alguns casos a usar até três encontros para sua análise.
·         Análise das tarefas desenvolvidas em sala de aula: nem todos os participantes do grupo podem usar o vídeo em suas salas de aula. Embora o projeto tenha passado pelo Comitê de Ética e aprovado, algumas escolas não permitem o uso de imagens dos alunos. Assim, os professores trabalham apenas com o diário de campo, onde registram os principais eventos ocorridos e apoiam-se nos registros dos alunos para produção de narrativas. Em algumas escolas é possível o uso do gravador e as audiogravações contribuem para a produção do diário de campo. Isso ocorreu com as tarefas desenvolvidas por Claudia Bredariol Pinto, Carla Santos e Patrícia de Oliveira, que atuam em escolas privadas.
·         Reescrita das tarefas: a análise dos vídeos e dos relatos dos professores forneceram dados que apontaram a necessidade da reformulação de algumas tarefas (nos enunciados, nas questões propostas, na linguagem utilizada, etc), bem como sinalizaram para algumas metodologias de trabalho em sala de aula. Por exemplo, o vídeo da Educação Infantil evidenciou que a tarefa precisaria ter um caráter mais lúdico, de forma a envolver a criança de 4-5 anos na sua realização.
·         Estudos teóricos: as reuniões do grupo eram intercaladas com estudos teóricos e atividades práticas (elaboração de tarefas ou análise de vídeos). Nesse ano, o grupo leu os seguintes trabalhos:
RADFORD, Luis. En torno a tres problemas de la generalización. In: RICO, L.; CAÑADAS, M.C.; GUTIÉRREZ, J.; MOLINA, M.; SEGOVIA, I. (Eds.). Investigación en Didáctica de la Matemática: homenaje a Encarnación Castro. Granada, Espanha: Editorial Comares, 2013, p. 3-12.

VALE, Isabel; PIMENTEL, Teresa (coord.) Padrões em Matemática: uma proposta didática no âmbito do novo programa para ensino básico. Portugal: Texto Editores, 2011 (continuamos a leitura desse livro, já iniciada em 2012).

VAN DE WALLE, John. Matemática no ensino fundamental: formação de professores e aplicação em sala de aula. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

·           (Re)Elaboração de tarefas: como já destacado, algumas tarefas elaboradas em 2012 tiveram que ser reelaboradas, com algumas modificações, visando a melhor compreensão pelos alunos. O texto de Radford (2013) traz uma sequência bastante interessante, a qual, rapidamente, já foi desenvolvida em sua sala de aula pela professora Cidinéia (sequência 5). Além disso, o grupo recebeu a visita da Profa. Dra. Beatriz D’Ambrosio,  que nos deixou uma série de materiais sobre álgebra. Um desses livros (KINDT, Martin et al. (Eds.). Patterns and Figures. Mathematics in Context.National Science Foundation. Chicago: Encyclopaedia Britannica, Inc., 2006), tem sido nossa referência. A partir dele, o grupo adaptou a sequência 4, que foi desenvolvida pelas professoras Cidinéia, Raquel, Carla/Patrícia e Joyce.

·         Preparação de trabalhos para divulgação em eventos[5]. Para esses eventos, o grupo planeja previamente quem tem disponibilidade para participar, ajuda na seleção e preparação dos textos. Após o evento, há um retorno de como foram as apresentações e as contribuições recebidas para o trabalho. Em 2013 participamos de cinco eventos, com apresentação de trabalhos:
1) II Seminário de Escritas e Leituras em Educação Matemática (II Selem), realizado na Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, em maio de 2013. A participação constou de:
- Participação na mesa redonda Comunicação em aulas de matemática, com Joyce Furlan (SEE/São Paulo e SME/Itatiba); Juliana Bagne (SME/Jundiaí) e Martha Kleine (SEE/SP).
- Minicursos: Os gêneros orais e escritos: uma articulação possível na apropriação de conceitos e linguagens matemáticas, ministrado por Cidinéia da Costa Luvison (SME/Bragança Paulista) e Pensamento algébrico – teoria e prática, ministrados por Lia Marques Marocci (SEE/SP) Paulo César da Penha (USF e SME Itatiba).
- Palestra: Resolução de problemas na educação infantil: oralidade, leitura e escrita, ministrada por Regina Célia Grando (USF).
- Coordenação da mesa redonda Leituras e Escritas na formação do educador matemático, pela Adair Mendes Nacarato, com a participação de Beatriz D’ Ambrosio (Miami University) e Elizeu Clementino de Souza (UNEB).
2) IV Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em aulas de matemática (IV SHIAM), realizado na Unicamp, Campinas, em julho de 2013. A participação dos membros do Grucomat constou de:
- Participação de Adair Mendes Nacarato, juntamente com Guilherme Val Toledo do Prado, no painel Narrativas na aprendizagem do professor.
- Participação em três comunicações científicas:
LUVISON. C. C., Uma experiência com padrões nas séries iniciais do ensino fundamental. SHIAM. Comunicação oral. IV Seminário nacional de histórias e investigações de/em aulas de matemática. Universidade Estadual de Campinas. UNICAMP. Campinas, 2013.

LUCIO, Claudia Cristiane Bredariol; NACARATO, Adair Mendes. Uso de padrões: possibilidade de aprendizagem significativa para os alunos desenvolverem a capacidade de generalização. Comunicação oral. IV Seminário Nacional de Histórias e investigações de/em aulas de matemática. IV SHIAM. Faculdade de Educação da UNICAMP, em Campinas/SP, 10 a 12 de julho de 2013.

SANTOS, Carla Cristiane Silva; NACARATO, Adair Mendes. Padrões e registros em experiências com crianças contribuindo para o desenvolvimento do pensamento algébrico[6]. Comunicação oral. IV Seminário nacional de histórias e investigações de/em aulas de matemática. Universidade Estadual de Campinas. UNICAMP. Campinas, 2013.

3) XI Encontro Nacional de Educação Matemática (XI ENEM), realizado na Puc-Paraná, Curitiba, em julho de 2013. A participação dos membros do Grucomat constou de apresentação de comunicação científica: BREDARIOL, Claudia Cristiane; NACARATO, Adair Mendes. Raciocínios algébricos de alunos do 6º ao 8º ano quando resolvem uma situação-problema envolvendo padrões.

4) VII Congresso Iberoamericano de Educação Matemática (VII CIBEM), realizado em Montevidéu/Uruguai, em julho de 2013. A participação de membros do Grucomat constou de comunicação científica: NACARATO, Adair Mendes; GRANDO, Regina Célia. Aprendizagens docentes numa comunidade de investigação: a aula de matemática como objeto de estudo.

5) I Simpósio de Grupos Colaborativos e de Aprendizagem do Professor que Ensina Matemática, realizado na Unicamp/Campinas, em 2013. Nele, as professoras Regina Célia Grando e Adair Mendes Nacarato apresentaram a comunicação GRUCOMAT como uma comunidade de aprendizagens e de investigações compartilhadas”. Esse evento gerou o ebook “Grupos colaborativos e de aprendizagem do professor que ensina Matemática: repensar a formação de professores é preciso”. Organização de Marcos Antonio Gonçalves Junior, Eliane Matesco Cristovão e Rosana Catarina Rodrigues de Lima. (ISBN 978-85-7713-158-7).

·         Parceria com professoras visitantes. O grupo contou com a visita de duas professoras internacionais: Profa. Dra. Ana Maria Boavida (Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setubal/Portugal) e Profa. Dra. Beatriz D’Ambrosio (Miami University, Oxford/EUA). A Professora Ana Maria esteve no grupo no dia 13 de maio de 2013 e a Professora Beatriz, em 17 de junho. Em ambas as visitas, o grupo se organizou para apresentar os trabalhos e ouvir comentários e sugestões das visitantes. As contribuições foram riquíssimas e possibilitou que o grupo revisse a escrita das tarefas já elaboradas, bem como produzisse outras, a partir do material disponibilizado pela Professora Beatriz.

·         Elaboração do blog do Grucomat. O grupo planejou como seria o blog, quais elementos colocar e a sua criação ficou por conta da, então, bolsista de Iniciação Científica, Carla Cristiane Silva Santos.


2.3 Ações realizadas no ano de 2014
O ano de 2014 foi destinado a:
·         Produção e análise de vídeos para o trabalho em parceria com o Prof. Arthur Powell. Foram produzidos vídeos sobre a sequência 4 numa turma de EJA numa parceria com a professora da turma pela Raquel Fernandes (Colégio de Aplicação) e numa turma de 8º ano da professora Joyce Furlan. A análise desses vídeos bem como o da professora Cidinéia de 2013 (3º ano) sobre a mesma sequência teve como objetivo a preparação de materiais visando à ida das professoras Adair Mendes Nacarato e Regina Célia Grando a Rutgers University, para trabalhar com o Prof. Arthur Powell. O grupo entendeu que seria mais rico ter uma única sequência trabalhada em diferentes níveis de ensino para análise dos discursos matemáticos dos alunos. Assim, além dos vídeos o material também constou de transcrição e narrativas das professoras.

·         Ida das pesquisadoras a Rutgers University/Ney Jersey/EUA. As pesquisadoras Adair Mendes Nacarato e Regina Célia Grando estiveram trabalhando presencialmente com o Prof. Arthur Powell na última semana de junho/2014, na análise dos três vídeos listados acima. Foi uma semana intensa de trabalho e a análise dos vídeos foi feita conjuntamente com os orientandos do Prof. Arthur. As discussões e análises feitas estão gerando dois artigos a ser publicados em periódicos internacionais (Anexo 2). As pesquisadoras também participaram de Seminários de Pesquisa com os orientandos do Prof. Arthur.

·         (Re)Elaboração de tarefas para a Educação Infantil. A análise do vídeo produzido anteriormente pela Juliana Bagne gerou no grupo a necessidade de produção de novas sequências para essa faixa etária. Assim, durante os vários encontros desse ano, o grupo se debruçou sobre o desafio de criar tarefas para esse nível de ensino. Tais tarefas (sequência 9) foram desenvolvidas pelas professoras Marjorie Bolognani e Juliana Bagne numa escola da rede municipal de Jundiaí, na qual Juliana atua como coordenadora (nesta turma houve um problema técnico com a filmadora e não foi possível produzir o vídeo); numa escola da rede municipal de Campinas; na qual Selma Vilas Boas atua como diretora; e numa escola da rede municipal de Itatiba, na qual Giancarla Giovanelli atua como diretora.

·         Elaboração de novas tarefas e produção de vídeos. A partir da necessidade de novos estudos, o grupo leu, dentre outros textos, o material produzido por PONTE, João Pedro da; BRANCO, Neusa; MATOS, Ana. Álgebra no Ensino Básico. Portugal: Ministério da Educação e Direção Geral de Inspeção e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), 2009. Esse material instigou a grupo a criar uma sequência sobre o sinal de igual (sequência 7). Essa sequência foi desenvolvida nas turmas: 3º ano, da professora Cidinéia; 2º e 5º anos da professora Michele Ubinha[7]; 3º ano, da professora Sibele Ubinha; da professora Patrícia de Oliveira; 7º ano, da professora Carla; 4º ano, pela Marjorie Bolognani em parceria com a professora da turma. Todos os  vídeos produzidos foram analisados pelo grupo. A professora Rosângela Bertoldo elaborou uma sequência própria para os alunos do ensino médio, nas classes nas quais atua (Sequência 6).

·         Estudos teóricos. Além da releitura do texto de Radford (2013), lemos os seguintes materiais:
CYRINO, Márcia Cristina de Costa Trindade; OLIVEIRA, Hélia. Pensamento algébrico ao longo do Ensino Básico em Portugal. Bolema. Rio Claro (SP), v. 24, n. 38, p. 97-126, abril 2011.
KAPUT, James J. What Is Algebra? What Is Algebraic Reasoning? In: KAPUT, James J.; CARRAHER, David W.; BLANTON, Maria L. (Eds.). Algebra in the early grades. New York: Lawrence Erlbaum Associates; NCTM, 2007, p.5-17.
KAPUT, James J.; CARRAHER, David W.; BLANTON, Maria L. (Eds.). A skeptic’s guide.  In: Algebra in the early grades. New York: Lawrence Erlbaum Associates; NCTM, 2007, p.XVII-XXI.
PONTE, João Pedro da; BRANCO, Neusa; MATOS, Ana. Álgebra no Ensino Básico. Portugal: Ministério da Educação e Direção Geral de Inspeção e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), 2009.
STEPHENS, Max; RIBEIRO, Alessandro. Working towards Algebra: The importance of relational thinking.2012, 15 (3), p. 373-402, México.
·         Parceria com professores visitantes. Neste ano contamos com a participação de três professores visitantes: 1) A Profa. Dra. Paola Sztajn, North Carolina State University/EUA, esteve no grupo no dia 24 de março de 2014, realizando uma palestra sobre o seu trabalho junto às escolas públicas americanas. Ela trabalha com o conceito de comunidade de prática de fronteira, visto que considera que há duas comunidades de prática distintas: a dos acadêmicos e a dos professores escolares. Na discussão com os participantes do Grucomat ficou evidente que, ao adotarmos o conceito de comunidade de investigação, não estabelecemos essa dicotomia universidade-escola básica. 2) O Prof. Dr. Alessandro Jaques Ribeiro, UFABC/São Paulo, esteve no grupo em 12 de maio de 2014, proferindo uma palestra sobre Educação Algébrica. Na ocasião ele discutiu com o grupo, não apenas as concepções de álgebra, mas, principalmente, os trabalhos que vêm sendo realizados por ele e seus orientandos, no seu grupo de pesquisa. Foi a partir da conversa com o Alessandro e inspirados no material de Portugal, que o grupo elaborou a sequência sobre a concepção relacional do sinal de igual (sequência 7). 3) A Profa. Dra. Beatriz D’Ambrósio esteve novamente no grupo em 24/11/2014. Nessa ocasião ela novamente se inteirou das ações que o grupo vinha desenvolvendo e trouxe novas sugestões de tarefas: nós ainda não havíamos pensado em tarefas envolvendo a noção de equilíbrio (uso de modelos como balança, por exemplo). Assim, o grupo assumiu que esse seria um trabalho para 2015.

·         Participação em eventos. Neste ano os membros do grupo participaram de seis eventos: III Seminário de Escritas e Leituras em Educação Matemática (III SELEM); 9th International Conference on Teaching Statistics (9th ICOTS); e II Congresso Nacional de Formação de Professores e XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores;  II Simpósio dos Grupos Colaborativos; e XX Encontro de Iniciação Científica, XIII Encontro de Pós-Graduação, IX Encontro de Extensão Universitária e VII Seminário de Estudos do Homem Contemporâneo.
1) III Seminário de Escritas e Leituras em Educação Matemática (III SELEM), realizado em agosto de 2014, na Universidade Federal de Lavras/MG. A participação dos membros do grupo constou de:
- Mesa redonda, em parceria com Maria Teresa Menezes Freitas, na qual Adair Mendes Nacarato apresentou o tema “Narrativas de práticas como pesquisa de sala de aula”.
- Comunicação oral de Carla Cristiane Silva Santos “A dinâmica de resolução de problema possibilitando a argumentação em sala de aula com alunos dos anos iniciais”
- Comunicação oral de Cidinéia da Costa Luvison “Uma experiência com padrões numéricos e geométricos no 3º ano do Ensino Fundamental”

2) 9th International Conference on Teaching Statistics (9th ICOTS), realizado em julho de 2014, em Flagstaff, Arizona, USA. Nesse evento as professoras Adair Mendes Nacarato e Regina Célia Grando apresentaram a comunicação oral “Teachers’ professional development in a stochastics investigation community”. Embora o trabalho não se refira ao atual projeto, ele analisa o movimento existente no Grucomat, que vem desde o primeiro Projeto Universal, de 2008 – a comunidade de investigação. Nesse trabalho, em particular, as pesquisadoras analisam o movimento do grupo no desenvolvimento profissional dos professores quando tomam a Estocástica como objeto de estudo.

3) II Congresso Nacional de Formação de Professores e XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores, realizado em abril de 2014, em Águas de Lindoia/SP, promovido pela Unesp. Nele as professoras Adair Mendes Nacarato, Celi Espasandin Lopes e Regina Célia Grando tiveram o trabalho aprovado e publicado nos Anais, “A análise de aulas como práticas de (auto)formação de professores que ensinam matemática quando inseridos numa comunidade de investigação”. Por problemas de saúde pessoal ou de família, as pesquisadoras não puderam participar do evento.

4) II Simpósio do Grupos Colaborativos e de Aprendizagem do Professor que ensina Matemática, realizado na Universidade Federal de Lavras/MG, em agosto de 2014. Nele o Grucomat foi representado pela professora Raquel Fernandes Gonçalves Machado, apresentando a comunicação Grucomat: espaço de pesquisas de professores.

5) II Encontro de Educação Matemática nos Anos Iniciais (II EEMAI), realizado em agosto de 2014, na Universidade Federal de São Carlos/SP. A professora Carla Cristiane Silva Santos apresentou a comunicação oral “Generalizações de padrões por alunos dos anos iniciais do ensino fundamental”.

6) XX Encontro de Iniciação Científica, XIII Encontro de Pós-Graduação, IX Encontro de Extensão Universitária e VII Seminário de Estudos do Homem Contemporâneo: nesse evento a bolsista de Iniciação Científica, Carla Cristiane Silva Santos e sua orientadora Adair Mendes Nacarato apresentaram a comunicação científica “A exploração de padrões com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental: indícios de generalização”.

2.4 Ações realizadas no ano de 2015
As principais ações do Grucomat em 2015 foram:
·         Elaboração de novas tarefas e produção de vídeos. Como destacado anteriormente, a Profa. Beatriz D’Ambrosio havia sugerido ao grupo a elaboração de tarefas sobre a noção de equilíbrio, com uso de modelos como a balança. Essa sugestão foi reforçada pelo Prof. Arthur Powell quando de sua visita ao Grucomat, em junho de 2015. Assim, o grupo elaborou uma sequência de tarefas com o uso da balança usando as barras Cuisenaire como material para cálculo da massa. Como não houve mais tempo para o grupo, como um todo, desenvolver tais atividades em sala de aula, apenas a professora Carla Santos a utilizou em sua pesquisa de mestrado (sequência 14), numa parceria com uma professora do 3º ano, em uma escola municipal de Nazaré Paulista/SP. No entanto, não houve tempo para o grupo analisar os vídeos produzidos e as potencialidades das tarefas elaboradas. Havia, ainda, o desejo do grupo de elaborar algumas tarefas com o uso da tecnologia. Enfrentamos o desafio de elaborar uma sequência para a Educação Infantil com o uso do tablet (sequência 13). Nosso objetivo foi analisar o papel da imaginação da criança em um trabalho pedagógico com sequências espaço-temporais. A professora Giancarla Giovanelli desenvolveu essa sequência em parceria com duas professoras da escola infantil (crianças de 4-5 anos), na qual ela atua como diretora. Os vídeos produzidos foram analisados pelo grupo nos últimos encontros de 2015, não havendo ainda tempo hábil para a sistematização. A professora Kelly Betereli, além de algumas sequências já produzidas pelo grupo, utilizou outras para trabalhar com seus alunos de 8º ano, de uma escola privada de Itatiba (Sequências 10,11 e 12).

·         Preparação do ebook. Como ocorre com todos os projetos do Grucomat, a sua finalização se dá com a produção de um livro[8]. O grupo optou por organizar um ebook (Anexo 1), visto ser uma forma mais ágil de divulgação e o  nosso interesse é que outros professores possam utilizar em suas salas de aulas as sequências de tarefas que organizamos. Assim, o primeiro semestre de 2015 foi destinado à escritura das narrativas que comporão o ebook. Cada professora (ou dupla, no caso de Juliana Bagne e Marjorie Bolognani) elaborou uma primeira versão da narrativa, a qual foi submetida a dois leitores críticos, do próprio grupo. Uma segunda versão foi produzida e passou pela leitura crítica do Prof. Dr. Arthur Powell, quando de sua estadia no Grucomat. Uma terceira versão foi elaborada e passará, agora, pela leitura final das professoras Adair Mendes Nacarato e Daniela Dias dos Anjos e, após a revisão de português, o ebook será submetido a uma editora. Além das narrativas das professoras (pesquisas de 1ª ordem), a obra também contará com dois artigos – um de abertura e outro de encerramento – nos quais é descrita a forma de atuação dessa comunidade de investigação e os saberes que nela são mobilizados e produzidos; dois artigos dos parceiros do projeto: professora Daniela que passou a compor o grupo a partir de 2015 e faz uma análise do trabalho coletivo contribuindo para a atividade individual; e do professor Arthur B. Powell que analisa a natureza das tarefas que foram produzidas no grupo.

·         Participação em eventos. Neste ano os membros do grupo participaram de cinco eventos: V Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em aulas de matemática (V SHIAM); XIV Conferencia Interamericana de Educación Matemática (XIV CIAEM), III Encontro de Educação Matemática nos Anos Iniciais (III EEMAI), III Simpósio dos Grupos Colaborativos e de Aprendizagem do Professor que ensina Matemática e XX Encontro de Iniciação Científica, XIV Encontro de Pós-Graduação, o X Encontro de Extensão Universitária e VIII Seminário de Estudos do Homem Contemporâneo.

1) V Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em aulas de matemática (V SHIAM), realizado na Unicamp, Campinas, em julho de 2015. A participação dos membros do Grucomat constou de:
- Comunicação oral apresentada por Carla Cristiane Silva Santos, “Algebrizando a partir da investigação de regularidades: o pensamento relacional”.
- Comunicação oral apresentada pela professora Cidinéia da Costa Luvison, “Narrativas em diários de aprendizagem: um processo dialógico de escrita, leitura e circulação de ideias”.
- Mesa redonda com participação de Adair Mendes Nacarato, juntamente com Eliane Matesco Cristóvão e Cármen Lúcia Brancaglion Passos, Modos de produzir e investigar os sentidos do ensinaraprender matemática na escola”.

- Mesa redonda com participação de Cidinéia da Costa Luvison, juntamente com Adriana Almeida Batista e Maria Dolores Coutinho, “Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: possibilidades de produção de conhecimentos e sentidos”.

2) XIV Conferencia Interamericana de Educación Matemática (XIV CIAEM), realizada em Tuxtla Gutiérrez, Chiapas/México, em maio de 2015. Nela as professoras Adair Mendes Nacarato e Regina Célia Grando apresentaram a comunicação oral Desenvolvimento profissional de professores que ensinam matemática em comunidades de investigação”.
3) III Encontro de Educação Matemática nos Anos Iniciais (III EEMAI), realizado na Universidade Federal de São Carlos/São Paulo, em agosto de 2015. A participação dos membros do Grucomat constou de realização de oficina pela Professora Cidinéia da Costa Luvison, As tarefas investigativas e suas potencialidades nos anos iniciais do Ensino Fundamental: um processo de narrar e levantar hipóteses”.
4) III Simpósio dos Grupos Colaborativos e de Aprendizagem do Professor que ensina Matemática, realizado na Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), em maio de 2015. O Grucomat foi representado pelas professoras Marjorie Samira Ferreira Bolognani e Iris Aparecida Custódio, com a comunicação “Grucomat: espaço de pesquisa de e com professores que ensinam matemática”.
5) XX Encontro de Iniciação Científica, XIV Encontro de Pós-Graduação, o X Encontro de Extensão Universitária e VIII Seminário de Estudos do Homem Contemporâneo nesse evento a mestranda, Carla Cristiane Silva Santos apresentou a comunicação científica “Os Padrões como Possibilidade de Ensinar a Álgebra no Ciclo de Alfabetização”.

·         Visita de trabalho do Prof. Dr. Arthur Powell. O Prof. Arthur esteve conosco na semana de 15 a 19 de junho de 2015. Na ocasião lemos e analisamos todas as narrativas das professoras, com apresentação de sugestões para complementações dos textos. Foram também sugeridos tipos de tarefas que podemos elaborar para ampliar o pensamento algébrico dos estudantes. Nesse encontro também revimos a temática de um dos artigos a ser publicado em periódico internacional, uma vez que o Prof. Arthur entende que o Grucomat tem um modelo muito particular de formação docente; assim, esse será o novo foco do texto.

·         Parceria com professores visitantes. Em agosto de 2015 o Grucomat recebeu a visita do Prof. Dr. Emmanouil Dafermakis (Manolis), University of Crete, Grécia. Na ocasião os membros do Grucomat apresentaram os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos. O professor Manolis fez uma análise na perspectiva histórico-cultural do movimento de aprendizagem do grupo e a importância de se aprender com o outro – esta seria a maior marca do Grucomat.

·         Publicação de capítulos de livro. Em 2015 houve a publicação de quatro capítulos de livro, com resultados de pesquisas desenvolvidas no Grucomat.

1) NACARATO, Adair Mendes; LUVISON, Cidinéia da Costa. Educação matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: possibilidades de produção do conhecimento científico In: TAUCHEN, S.; SILVA, J.A.; SCHWANTES, L. (Orgs.) Educação científica pesquisas e experiências. 1 ed. Curitiba: Editora CRV, 2015, p. 33-52. Este capítulo analisa o pensamento científico dos alunos do 3º ano, da professora Cidinéia, na realização e discussão da tarefa de tiras elaborada pelo Grucomat.
2) NACARATO, Adair Mendes; GRANDO, Regina Célia. A análise de aulas videogravadas como prática de formação de professores que ensinam matemática In: POWELL, A.B. (Org.). Métodos de pesquisas em Educação Matemática: usando escrita, vídeo e internet.1 ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015, v.1, p. 61-94. Neste capítulo as autoras analisam o movimento do Grucomat diante do processo de elaboração-desenvolvimento-análise das tarefas em sala de aula dos professores da educação básica, mediadas pelo uso da videogravação.
3) GRANDO, Regina Célia; NACARATO, Adair Mendes. Captando o movimento do pensamento probabilístico de alunos do ensino fundamental: a videogravação em sala de aula In: POWELL, A.B. (Org.). Métodos de pesquisas em Educação Matemática: usando escrita, vídeo e internet. 1 ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015, v.1, p. 95-125. Este capítulo refere-se ao projeto anterior desenvolvido no Grucomat, no período em que estudávamos a Estocástica.
4) NACARATO, Adair Mendes; GRANDO, Regina Célia. Collaborative Groups within the University and Practices of Insubordinate Teachers In: LOPES, C.E.; D’AMBROSIO, B. (Eds.). Creative Insubordination in Brazilian Mathematics Education Research.1 ed. Raleigh, NC: Lulu Press, 2015, v.1, p. 201-214. Neste capítulo as autoras analisam as Práticas de professores que buscam romper com os modelos de formação e de desenvolvimento curricular. Tomam dois grupos como objeto de análise: o Grucomat e o Obeduc[9]/USF.
·         Colaboração na pesquisa de mestrado de Carla Cristiane Silva Santos. Os membros do Grucomat colaboraram com a mestranda Carla que organizou uma sequência de tarefas sobre o pensamento algébrico (Sequência 14), a ser desenvolvida em parceria com uma professora da rede municipal de Nazaré Paulista, num 3º ano. A sequência trazia tarefas já elaboradas pelo Grucomat e outras que ela criou. As contribuições do grupo foram, principalmente, com a forma como ela poderia trabalhar e registrar as aulas, como fonte de dados para a pesquisa.

3. PRINCIPAIS RESULTADOS
            Embora ainda estejamos na fase de análise dos dados – muitos comporão capítulos do ebook –, destacamos aqui os principais resultados, agrupados em dois eixos: construção de saberes e a formação docente e construção de saberes sobre a natureza das tarefas para a sala de aula. Para isso trazemos alguns excertos de depoimentos das professoras nos encontros do grupo ou em suas narrativas.




3.1 Quanto à construção de saberes e a formação docente
Pode-se dizer que o grupo vem construindo, colaborativamente, um modelo de formação docente que inclui: o trabalho colaborativo; o estudo, a elaboração e a análise de tarefas de sala de aula.
O trabalho colaborativo, quando desenvolvido numa comunidade de professores que têm como objetivo a pesquisa em sala de aula, evidencia a potencialidade de um movimento dialético constituído de: estudo teórico, elaboração coletiva da tarefa, desenvolvimento da tarefa em sala de aula com o respectivo registro, análise do material produzido no coletivo do grupo, reflexões sobre a natureza da tarefa e suas potencialidades, retorno à teoria para estudos, reescrita da tarefa, quando necessário.
É no movimento constante de estudo-ação-reflexão que os participantes do grupo aprendem e produzem saberes profissionais, como destacado pela professora Marjorie:
Todas as etapas têm essa reflexão coletiva... porque na escolha da teoria... tinha hora que a gente estava no estudo de uma teoria e aí a gente falava: “ah, isso não está sendo suficiente, vamos para outro lugar então (...) Acho que essa questão de buscar parceria de fora, esse terceiro elemento, porque como a gente está aqui, tão imerso no grupo... Veio o Arthur, veio o Manolis, veio o Alessandro, que foi uma brecada para a gente começar a pensar... (registro de 02/12/2015)[10].

Esse depoimento reforça o papel do outro na nossa constituição, ou, utilizando o conceito de excedente de visão de Bakhtin (2003): “avaliamos a nós mesmos do ponto de vista dos outros, através do outro procuramos compreender e levar em conta os momentos transgredientes à nossa própria consciência” (p.13). Ou, ainda, “Ao olharmos para nós mesmos com os olhos do outro, na vida sempre tornamos a voltar para nós mesmos, e o último acontecimento, espécie de resumo, realiza-se em nós nas categorias da nossa própria vida” (p. 14). Daí a importância do trabalho colaborativo; do respeito que cada participante tem com os colegas; de ousar expor-se, filmar uma aula, mesmo quando nem tudo sai como era previsto. É o ato responsivo de cada um, como afirmou a professora Juliana: “acho que o grupo colaborativo não existiria se não existisse essa parceria que há entre nós né! De dizer “não foi legal, mas o que a gente pode mudar” e não estou dizendo de uma prática, mas de uma proposta que é de todas, que todas sentem corresponsáveis por ela..”.(registro de 02/12/2015).
            Há um constante movimento de aprendizagem docente. As aprendizagens docentes referem-se à aprendizagem de adultos, resultante da interação entre adultos, por meio de interpretações das experiências vividas, em diferentes cenários. Aprendemos com o outro do grupo, com os alunos na sala de aula, com os textos lidos, com as parcerias com pesquisadores externos, nos diálogos nos eventos nos quais há apresentação de trabalhos. Quando os professores estão num grupo, suas experiências anteriores podem ser tomadas como objeto de reflexão e isso poderá gerar novas experiências, formando novas ideias que terão implicações em suas práticas. Aprender envolve produzir significados, o que foi aprendido tem de fazer sentido para o sujeito. O professor tem uma necessidade que o move para o novo – é o aspecto proposicional – e faz suas escolhas deliberadas sobre de quais processos quer participar, quais atividades quer desenvolver com seus alunos. É isso que garante o desenvolvimento profissional. Por isso, acreditamos que esse modelo de formação rompe com aqueles propostos pelas políticas públicas, os quais são prescritos e não há o protagonismo do professor.
            Outro elemento que tem sido fundamental no trabalho é a heterogeneidade do grupo. Nele existem professoras, coordenadoras e diretoras, conforme destacou a professora Daniela: “tem essa questão do lugar da gestão, de vocês que são diretoras, coordenadoras pedagógicas e aí, como isso volta para a escola, na relação com os docentes, na aproximação de vocês com os alunos...” (registro de 02/12/2015). A essa intervenção, Marjorie complementou com sua visão como diretora:
Nessa questão da gestão, como que quando você participa de uma prática colaborativa, como é mais fácil você se tornar um diretor que possibilita a participação. Existem muitos documentos que falam dessa participação, de uma construção coletiva, mas fazer uma construção coletiva tem uma metodologia para isso, tem uma forma de fazer isso e como a gente vive aqui... então, levar o problema, construir junto, saber que isso demanda tempo, que as vezes o tempo extrapola o mês, a programação. Quantas vezes a gente programou? Vamos fazer o cronograma do semestre e extrapolou pela necessidade do grupo e não por falta de planejamento. Então, quando a gente vai fazer lá na escola, a gente percebe que é assim... (registro de 02/12/2015)

            Outro aspecto da heterogeneidade diz respeito aos diferentes níveis de ensino nos quais as professoras atuam e a possibilidade de cada uma conhecer o trabalho da outra, como os alunos em diferentes faixas etárias pensam. O excerto, da avaliação final, em 02/12/2015, ilustra tal riqueza:
Rosangela: Eu acho que lá onde estão as pedagogas aprendendo matemática, acho que poderia ser também o contrário, os especialistas entendendo como é essa formação, como essa formação lá no infantil, no fundamental pode ajudar a gente...
Juliana: Acompanhando o raciocínio da Rô, pensar em qual é o caminho que o aluno percorre para chegar no 6º, no 7º, no 8º, no 9º...
Rosangela: Ou o que faltou lá trás, para ele chegar do jeito que ele chega para gente...
Juliana: É disso que estou falando...
Cidinéia: Talvez não no que faltou, mas talvez o que foi cortado para que esse processo não ocorra. Porque para nós, as vezes, não é o que falta, a criança está se desenvolvendo, chega no 6º ano alguma coisa acontece... Sou muito mais disso, porque tem crianças que você vê que tem um desenvolvimento lindo e o que acontece no 6º ano para frente? Então, eu acho que são coisas todas para gente pensar...
Selma: A professora que eu fiz a atividade na sala dela, ela achou interessante o fato de a gente trabalhar um tema da Educação Infantil até o Ensino Médio, como isso vai se desenvolvendo.

            Isso reforça o quanto a escola poderia ser um espaço de formação; se os professores que atuam nos diferentes níveis pudessem trabalhar juntos, elaborar tarefas semelhantes para diferentes níveis de ensino, analisar o pensamento matemático de seus alunos, buscar por estratégias semelhantes para promover aprendizagens... essa seria a formação docente que almejamos. Os professores, geralmente, trabalham isoladamente em suas escolas e não há espaços e tempos para as trocas, para as parcerias.
            Um aspecto a ser destacado diz respeito ao planejamento e a intencionalidade com a tarefa, como registra a professora Selma em sua narrativa que comporá o ebook:

ressalto alguns pontos importantes: planejamento, em grupo, de uma sequência de tarefas com intencionalidade pedagógica; a realização da tarefa com as crianças; a avaliação dos resultados com todos os integrantes do GRUCOMAT e a visita do professor Arthur. Tais pontos foram significativos, em primeiro lugar, para a minha formação e, em segundo, para a aprendizagem das crianças.

            Há que se ressaltar a existência de duas práticas formativas muito presentes no grupo: o uso da videogravação de aulas e a produção de narrativas. A professora Cidinéia, em uma de suas narrativas de aula afirmou:
A videogravação foi utilizada, pois acredito que este seja um instrumento imprescindível durante a aula, pois permite trazer todo o movimento da sala de aula, os gestos, as vozes, o olhar e a relação professor-aluno, o registro escrito por trazer a materialização das discussões realizadas durante o processo de discussão, já que a escrita seria neste momento a organização das ideias. (narrativa de 06 de abril de 2013).

A conjunção da videogravação com a produção da narrativa tem se revelado como uma forma produtiva de registrar a aula, sistematizar os saberes discentes e docentes. Mesmo quando o professor não tem como videogravar suas aulas – ou por limitações de suporte técnico ou humano, ou por impedimentos da escola – ele pode audiogravar a aula e, a partir dessa audiogravação produzir sua narrativa.
Cada vez mais nos convencemos de que a análise de aulas é uma prática formativa potencializadora de aprendizagens docentes. Para que a aula do professor seja objeto de análise, ele precisa estar disposto a compartilhá-la com os colegas e isso é feito com tranquilidade quando o professor se sente respeitado e valorizado no grupo. Assim, podemos afirmar que a maior fonte de saberes produzidos nesse grupo tem sido com a análise de aulas. Aos assistirmos aos vídeos podemos aprender sobre: gestão de sala de aula, como organizar o material didático, como promover os momentos de discussão, como dar voz aos alunos e como estes pensam sobre o conteúdo que está sendo aprendido. Muitas vezes o vídeo é prática de (auto)formação para o professor que teve sua aula registrada, como destacado pela professora Raquel:
Ao analisar os vídeos notei que não me detive na argumentação de Fernanda; pude identificar o quanto estive centrada para que percebessem a relação cor posição, não percebi o cálculo feito por Fê (13 + 13 =36). Ela estava tentando elaborar, identificar uma regularidade entre cor e posição, não tendo que fazer todo aquele processo (do desenho) que a colega insistia em fazer, desejava mais praticidade, estabelecendo associação adequada posição par, vermelha. Fê defendia a hipótese de que a posição que correspondia ao dobro seria a mesma cor, e quando pergunto pela vigésima e a décima posição, meu exemplo reforça sua hipótese e não favorece o questionamento; (logo fiz a intervenção no momento errado, e de modo errado) percebo e pergunto pela oitava posição. (registro de compartilhamento do vídeo da professora Raquel, em 15 de junho de 2013).

Analisar e refletir sobre o vídeo, ter a narrativa compartilhada no grupo e ter a oportunidade voltar a desenvolver a mesma tarefa em sala de aula, também é uma rica fonte de aprendizagem, como destacou a professora Cidinéia na narrativa que irá compor o ebook:
A possibilidade de fazer parte de um grupo, de poder repensar e discutir a respeito de minha prática enquanto professora, escrevendo e compartilhando minhas narrativas e videogravações e analisando todo esse percurso com a tarefa das fitas me fez acreditar ainda mais, no quanto é importante essa troca com professores que acreditam que a matemática pode trilhar caminhos de reflexões, discussões e muito aprendizado.

Pudemos constatar na pesquisa as contribuições que o vídeo oferece para análise de aulas, tal como defendido por Powell, Francisco e Maher (2004) e Maher (2008). Como afirma Maher (2008), os vídeos possibilitam aos professores se engajarem prospectivamente na elaboração de novas estratégias de ensino, garantindo um ensino de matemática mais efetivo para um maior contingente de alunos. Concordamos com a autora de que os vídeos têm um potencial incalculável para o desenvolvimento da consciência de como os alunos mobilizam seus conhecimentos matemáticos e constroem novos.
No entanto, o vídeo também tem seus limites. Alguns desses limites e dificuldades com a videogravação identificamos em nosso trabalho: ele não consegue captar todo o movimento da sala de aula; depende da pessoa que está realizando a videogravação, pois ela sempre fará a seleção de quais imagens serão gravadas; a dificuldade de captar as vozes dos alunos quando estes trabalham em grupos, até pelo barulho natural de uma sala de aula; o excesso de material e o tempo gasto para a transcrição.
A produção de narrativas de aula tem contribuído para o desenvolvimento de posturas investigativas no professor, que passa a questionar sua prática e buscar por novas formas de ensinar matemática ou até mesmo de atuar na gestão, como destacado por Giancarla ao final de sua narrativa que comporá o ebook:

A experiência da tarefa foi rica, mas mais rico foi o processo de análise e discussão e também a pausa para a escrita deste texto. É este processo de análise, discussão, reflexão que proporcionam o aprimoramento da minha ação na escola como gestora. Apesar de não atuar em sala de aula, tenho subsídios para orientar, sugerir, questionar... levar à reflexão! E neste movimento proporcionar também o desenvolvimento profissional  docente na escola onde atuo.

Assim, não temos dúvida de que o grupo a cada ano aumenta o seu repertório de saberes profissionais, o que tem contribuído para a disseminação nos espaços por onde atuamos.

3.2 Quanto à construção de saberes sobre a natureza das tarefas para a sala de aula 
Trabalhar com o pensamento algébrico, principalmente para os anos iniciais da escolarização, sem dúvida, foi o nosso maior desafio. As leituras que fizemos da literatura internacional nos apontaram o quanto outros países já avançaram tanto em pesquisas, quanto em práticas de sala de aula. Essa literatura foi o nosso maior apoio. No entanto, nossas aprendizagens foram decorrentes do próprio movimento do grupo: estudar-elaborar a tarefa-desenvolver em sala de aula-analisar os vídeos. O grupo aprendeu o quanto esse processo é complexo. Precisa haver um movimento constante entre a teoria e a prática; nem sempre aquilo que a teoria aponta como potencial para o pensamento algébrico se concretiza em sala de aula. Daí a necessidade da análise de como os alunos reagem frente à tarefa proposta.
Para o grupo o desafio não estava apenas no que diz respeito ao conteúdo envolvido, mas, principalmente, na linguagem utilizada nas questões propostas. O fato de uma mesma tarefa ser resolvida por alunos de diferentes níveis nos ajudou na compreensão de como o texto precisa ser redigido com clareza e objetividade, evitando ambiguidades. Refletimos também sobre essa questão, principalmente, na parceria com o Prof. Arthur, e passamos a compreender que as dúvidas, as questões que surgem com o uso da linguagem, das palavras, podem ser ferramentas para problematizações e avanços na aprendizagem.
O fato de o grupo utilizar uma mesma tarefa para diferentes níveis de ensino evidenciou que o desenvolvimento do pensamento algébrico precisa ser um processo contínuo e não apenas destinado aos últimos anos do ensino fundamental. Em algumas tarefas ficou evidente que os discursos dos alunos eram os mesmos em todos os níveis de ensino; em outras, os alunos dos anos iniciais trouxeram ideias mais elaboradas sobre a percepção de regularidades – embora não tivessem, ainda, a linguagem algébrica apropriada para expressá-la. Fomos surpreendidos, em vários momentos, pela capacidade de percepção de regularidades e generalização dos alunos. Isso se faz presente na maioria das narrativas produzidas pelas professoras, que irão compor o ebook. A professora Carla, por exemplo, escreve: “nota-se que há indício de pensamento algébrico por crianças dos anos iniciais, tanto na oralidade, quanto nos registros em que eles buscam generalizar e trazer a linguagem algébrica no decorrer das tarefas”. A professora Cidinéia também destaca em sua narrativa os discursos matemáticos dos seus alunos: “Nesse momento observo que as diferentes estratégias de resolução estiveram presentes, utilizaram a contagem um a um, relacionaram os números as cores e ao mesmo tempo aos números pares e ímpares, trouxeram a contagem de 10 em 10 e ao compreender a organização do padrão ousaram desenvolver a contagem de 11 em 11”.
Se, por um lado, fomos surpreendidos pelas respostas dos alunos, por outro, houve casos que a expectativa do professor estava além da capacidade dos alunos, como destacado na narrativa da Professora Rosângela que comporá o ebook. Por atuar no ensino médio, ela esperava que os alunos tivessem percepções das regularidades e fossem capazes de criar, algebricamente, a lei de formação da sequência:
Com relação a minha expectativa de que não tivessem tantas dificuldades com o desenvolvimento das tarefas propostas e conseguissem fazer generalizações, posso dizer que nem todos os grupos conseguiram identificar regularidades, estabelecer relações e representá-las algebricamente e a mediação foi necessária em vários momentos. Nesse sentido, ressalto a importância dessa ação para o desenvolvimento do pensamento algébrico, o registro e a comunicação das diferentes estratégias de resolução e a percepção da equivalência entre leis de formação pelos alunos.

Tal constatação evidencia que os tempos de aprendizagem são diferentes e o professor precisa estar atento a eles e aos conhecimentos que os alunos trazem nos diferentes níveis de ensino.
            Outro desafio enfrentado pelo grupo foi a inserção de movimentos corporais e o uso de recursos didáticos nas tarefas propostas. O grupo considerou que, no início de um trabalho sobre pensamento algébrico com os alunos mais novos (educação infantil e anos iniciais), seria interessante o uso de movimentos corporais. Entretanto, as práticas mostraram que o sucesso de uma atividade como essa não está relacionado à faixa etária, mas sim, ao modo como a tarefa é proposta. Em turmas da educação infantil os jogos corporais nem sempre foram mobilizadores para as crianças, enquanto em turmas de 3º ano, os alunos se envolveram muito nesse tipo de tarefa. Uma análise do grupo é de que o lúdico e a imaginação precisam ser levados em consideração, a depender da faixa etária. Isso só foi possível concluir a partir do primeiro vídeo produzido pela professora Juliana. As discussões do vídeo mobilizaram o grupo para refazer a tarefa, inserindo-a num contexto de história, envolvendo a imaginação. Novamente o grupo se surpreendeu ao comparar vídeos de duas turmas diferentes: enquanto numa os alunos não se mobilizaram, na outra, as crianças entraram no imaginário da história. O quanto a tarefa foi significativa para um grupo e não foi para o outro pode ser identificado nos desenhos produzidos por eles, ao final da tarefa. Enquanto na turma que não houve envolvimento, os alunos desenharam o que quiseram, na outra os desenhos expressaram os sentidos que a tarefa produziu para eles.
            A questão do desenho foi objeto de discussão no grupo, como retratado na fala da professora Juliana:
Essa discussão aconteceu quando eu levei para o grupo da creche e embora as crianças tenham conseguido encontrar os padrões na fila, quando elas viram as fotos delas e depois a gente ainda quis que elas desenhassem... Algumas até conseguiram, mas eu questionei “Será que o desenho é uma boa ferramenta para gente avaliar se as crianças entenderam ou não entenderam? Elas identificarem na foto já não é o suficiente? Será que o desenho é necessário?” Talvez o conceito ainda esteja em formação, ele ainda não esteja formado. Então quando a gente pede para ele desenhar, ele vai desenhar a brincadeira, porque é aquilo que ele gosta de fazer de verdade. A gente precisa admitir que nem tudo que a gente faz é transformado imediatamente. A criança vai construindo o conceito devagarzinho, às vezes se apropria, às vezes não, às vezes faz sentido, às vezes não e a gente precisa ter humildade para entender que nem sempre fica. Por isso que às vezes eu questiono a questão do desenho, porque a gente fica massacrando mesmo a criança... é verdade... (registro do encontro de 15/6/2015)

            Essa questão também se fez presente na narrativa que a professora Juliana produziu juntamente com a professora Marjorie e que comporá o ebook:
No caso da nossa tarefa, constatamos que o desenho não foi determinante para observarmos o desenvolvimento do pensamento algébrico das crianças. Uma estratégia para entendermos como as crianças pensam sobre o assunto, quais construções ou dúvidas permaneceram para os alunos após o desenvolvimento da proposta, é a roda de conversa com o intuito de oportunizar às crianças que contem o que desenharam aos colegas.

O papel da imaginação também se evidenciou nas tarefas que o grupo propôs utilizando o tablet com crianças da educação infantil. As tarefas foram realizadas com duas turmas diferentes e tiveram diferentes pontos de partida: uma história criada pelos alunos e uma história da literatura infantil recontada pelos alunos. Como elas foram desenvolvidas por professoras diferentes – ambas na escola de educação infantil onde a professora Giancarla atua como diretora –, os resultados foram bastante diferentes no que diz respeito ao envolvimento das crianças – fato que surpreendeu o grupo, pois a história criada pelas crianças foi mais rica – e evidenciou que o protagonismo, mesmo de crianças da educação infantil, é essencial para o sucesso de uma tarefa.
            Quanto ao uso de materiais manipulativos para a construção de sequências, o grupo também se surpreendeu com a reação de alunos da EJA. A professora Raquel responsável pelo desenvolvimento da tarefa havia considerado que os alunos não se envolveriam com a manipulação de contas para construção de um colar e propôs a tarefa apenas impressa, o que gerou a reclamação dos jovens e adultos que gostariam de ter o material em mãos. Isso evidencia que não podemos partir de regras pré-estabelecidas; os alunos precisam ser ouvidos e a eles precisam ser disponibilizados diferentes materiais, os quais poderão ou não ser utilizados por eles.  
            Finalmente, é importante destacar que nosso objetivo não era criar uma sequência de tarefas que garantam a formação do pensamento algébrico dos estudantes, mas, sim, analisar quais as potencialidades de uma tarefa. Nesse sentido, o material produzido pelo grupo e que se encontra no Anexo 3 traz nossa análise sobre as potencialidades de cada tarefa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar o presente relatório, reafirmamos que os resultados aqui apresentados ainda são provisórios. O grupo conta com um amplo acervo de dados, que poderá gerar muitos artigos. Essa será nossa tarefa no próximo ano.
Retomando os objetivos propostos para a pesquisa podemos afirmar que o grupo de trabalho de dimensão colaborativa é um importante espaço de formação docente e de produção de saberes profissionais. No entanto, o diferencial está na perspectiva das práticas problematizadoras – o que tem sido a marca maior das professoras do grupo – e a pesquisa como eixo de formação. É no ato de observar sua classe, dar voz e registrar o raciocínio dos alunos, refletir sobre essa prática e sistematizá-la que o professor vai se desenvolvendo profissionalmente. Mas esse desenvolvimento é potencializado quando o professor participa de um grupo no qual pode compartilhar suas práticas. Daí nossa opção pelo uso do conceito de comunidade de investigação.  Nela, todos aprendem e se (trans)formam.
Quanto ao nosso segundo objetivo, podemos afirmar que os vídeos, os registros dos alunos e as narrativas das professoras trazem muitos indícios de como os alunos pensam algebricamente, que discursos produzem sobre o movimento de produzir matemática em sala de aula.
Os processos formativos adotados no Grucomat vêm evidenciando o quanto o professor que procura, voluntariamente o grupo, pelo desejo de aprender, pelo compromisso com seus alunos, visando uma aula de matemática que produza sentido a todos e pela necessidade de poder contar com parceiros para discutir suas práticas, suas angústias, seus (in)sucessos, está se desenvolvendo profissionalmente. Ele rompe com práticas cristalizadas de se ensinar matemática desprovida de significado aos seus alunos. Como no grupo ele tem voz, é ouvido e é respeitado, esse professor se apropria dessa postura e a leva para a sua sala de aula, promovendo aprendizagens significativas para seus alunos.
Ainda há muito por fazer. Por isso, o grupo decidiu dar continuidade ao trabalho no campo da álgebra, mesmo com a finalização do Projeto Universal.


5. PERSPECTIVAS DE CONTINUIDADE
            O grupo decidiu dar continuidade ao trabalho, com as seguintes ações:
1. Conclusão do ebook com lançamento previsto para 2016.

2. Elaboração de sequências de tarefas com o uso do tablet para alunos do ensino fundamental, bem como desenvolvimento das tarefas já elaboradas em 2015, com outras turmas de educação infantil.

3. Desenvolvimento em sala de aula das tarefas sobre o uso de equivalência, com a balança. Para isso o grupo tomará como ponto de partida os vídeos produzidos pela professora Carla em sua pesquisa de mestrado.

4. Elaboração de material voltado para a formação do professor que atua nos anos iniciais do ensino fundamental, com conteúdos voltados à formação do pensamento algébrico. O ponto de partida serão as tarefas já elaboradas e a elaboração de novas.

5. Publicação de artigos em periódicos nacionais e internacionais, com resultados da pesquisa.



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